O primeiro Superclássico do ano, jogado ontem à noite na imponente cidade de Mar del Plata, tinha começado mal. A dupla de relator-comentarista do canal pago Sportv não cessava de elogiar a nova camisa do clube da ribeira, aparente favorito para o canal. Os elogiosà vulgar cópia da bandeira sueca foram tão numerosos e repetitivos que a dupla deixou de relatar várias jogadas importantes e confundiu, como costumam fazer, nomes de jogadores.
Felizmente, com apenas 3’ de jogo, o recém-incorporado Rodrigo Rojas desenha uma linda jogada pela direita, e com um chute cruzado de direita decreta 1×0. O disparo, violento e preciso, do irreverente juvenil paraguaio, entra por debaixo do corpo de Abbondanzieri (“Pato” sempre houve e haverá somente um).
River dominava campo e bola, mas Boca ameaçava com sua arma predileta: o contra-ataque, com homens abertos pelas laterais, especialmente Gaitán pela direita (nem sempre bem marcado), e bolas levantadas ao segundo pau procurando Palermo. Foi assim que aos 30PT Riquelme cobra uma falta sobre a área. A defesa de River deveria ter antecipado o destino da bola: a cabeça de Palermo. O centro-avante de Boca cabeceia meio espremido, mas mesmo assim coloca a bola no ângulo direito de Vega. River sentiu o gol de empate,mas foram assim para o descanso.
Astrada deve ter falado bastante nos vestiários, porque La Banda voltou para o ST com ânimo renovado e já aos 2’ quase amplia a vantagem. River marcava a saída, passava rápido da defesa para o ataque, e o trio de juvenis passou a funcionar em plenitude. Boca praticamente não conseguia mais avançar; seus homens recuavam repetidamente a bola como não sabendo o que fazer.
O 2do gol mostra que Funes Mori tem um futuro promissor pela frente: a bola era do goleiro, mas ele não respeitou a fama do veterano e foi buscar um possível rebote. Resultado: 2×1 para River. Funes Mori tem físico e faro de goleador, e pode ser o “nove” que River necessita. Com um pouco mais de calma, ontem Funes Mori poderia ter anotado outros dois gols, pelo menos.
O 3ro gol foi uma jogada mortal de contra-ataque. Villalba recebe o passe da direita, balança o corpo, espera a saída do goleiro, e define com a tranqüilidade de um goleador experiente. Com sua pouca estatura, Keko tem categoria de craque: sua inteligência e velocidade são eletrizantes. Também Villalba perdeu um par de gols; tem tudo para dar muitas alegrias ao torcedor riverplatense.
Ontem El Millo ganhou de forma contundente, inapelável. Ganhou porque jogou como deve ser: com marca, velocidade, e de frente para a meta adversária. Foram 3 gols, mas poderiam ter sido 5 ou 6, sem exagero. Foi muito bom volver a ver Abelairas como “10”, fazendo correr a bola e se mostrando como saída ofensiva pela esquerda do ataque. Houve alguns erros defensivos,nos que Astrada terá que continuar trabalhando, embora, felizmente, não tivessem maiores conseqüências. De quebra, a derrota para River provocou uma crise em Boca, com a renúncia do DT Basile e declarações pouco elegantes de seu ajudante.
Fazia muito que não víamos a River jogando assim, com mentalidade ganhadora desde o começo. Pouco a pouco Astrada vai deixando atrás o passado e encontrando o time ideal. Que esta vitória sobre o tradicional rival sirva para devolver aos homens a confiança e reafirmar o espírito ganhador.
Que em 2010 River volte a ser River.
